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Jornada para Almenara

 

Por Adauto Rezende

 

 

 

 

 

 

 

 

No início de fevereiro de 2024, iniciamos uma jornada rumo aos estados da Bahia e Minas Gerais para agregarmos com o missionário canadense Ron Morin. Ele chegou ao Brasil na década de 70 acompanhado de sua esposa Joan e seus filhos, e dedicou quase uma década no país plantando igrejas e pastoreando em regiões carentes, enviado pela Igreja Missionária Apostólica do Canadá.

Ron nos convidou para acompanhá-lo em uma viagem de 4100 quilômetros pelos dois estados, visitando diversas igrejas e cidades. Partimos de Salvador, capital do estado da Bahia, em direção ao sul. Após 8 horas na estrada, fizemos nossa primeira parada na cidade de Planalto, onde o Pastor José e sua esposa Célia cuidam da congregação e de um centro de reabilitação cristã para mulheres.

No dia seguinte, dirigimos cerca de 600 km até Governador Valadares, em Minas Gerais. Nos dias seguintes, viajamos quase 1000 quilômetros, pregando nas cidades de Tavares, São Gonçalo do Pará, Divinópolis, Belo Horizonte e Pará de Minas. Alguns dias depois, retornamos a Governador Valadares para visitar e pregar em quatro igrejas. Nessas cidades, testemunhamos grandes histórias de fé.

Em uma delas, uma senhora idosa de São Gonçalo se aproximou do nosso carro, olhou para o Ron com lágrimas nos olhos e o abraçou, dizendo: "Você se lembra de mim? Eu sou a Sueli, uma das meninas que frequentava a escola dominical que você estabeleceu aqui muitos anos atrás." Ela contou que, após quase cinco décadas, mais de trinta pessoas de sua família se converteram. Ron se emocionou ao procurar uma foto antiga em seu telefone, na qual estava Sueli ainda criança.

Nas igrejas apostólicas que visitamos, muitos outros testemunhos foram compartilhados sobre o trabalho missionário de Ron no Brasil. Na terceira semana (24 de fevereiro), partimos de Valadares para Almenara, em uma viagem de 400 quilômetros. Foi apenas uma pausa durante a noite, pois seguiríamos para Canavieiras, Bahia, na manhã seguinte, percorrendo mais 320 quilômetros.

Após uma viagem tranquila e sem problemas, estávamos animados, pois nosso cronograma estava adiantado quase duas horas. No entanto, a cerca de 60 quilômetros do nosso destino final, nos deparamos com a pior estrada que já vi em toda a minha vida. Os buracos eram grandes e profundos, e havia lugares onde não sabíamos para onde conduzir o veículo. Quilômetros repletos de perfurações, buracos e crateras tornaram a jornada desafiadora. Dirigindo a velocidades de 5 a 10 km/h, não conseguimos evitar um pneu furado e ruídos de batida do suporte do motor, adicionando um segundo desafio para nós.

Ron elevou sua voz em oração, e saímos do carro com a temperatura acima de 40°C, o sol implacável queimando nossa pele. Enquanto removia as porcas, meus dedos queimavam contra o aro quente do pneu devido a elevada temperatura. No meio de nossa agonia, um caminhoneiro parou e ajudou-nos a finalizar a instalação do pneu sobressalente que nos levaria a Jequitinhonha, uma cidade de 25 mil pessoas em um dos lugares mais pobres do país. Estávamos agradecidos porque o Senhor havia enviado Nelson, o motorista, que agilizou a troca do pneu.

Depois de alguns quilômetros e algumas horas de viagem, encontramos uma borracharia na entrada da cidade para reparar nosso pneu furado. Enquanto isso, dirigimos até o centro da cidade para almoçar. Tínhamos conosco alguns folhetos do Evangelho de João, que usamos para evangelizar durante a viagem. Encontramos um restaurante muito modesto que nos serviu o prato único num pequeno local quente e empoeirado, e, do lado de fora, estrondosas músicas populares eram tocadas numa caixa de som enquanto algumas pessoas bebiam cerveja em mesas à sombra das árvores.

Depois de terminar nossa refeição, Gina foi ao carro buscar a literatura para distribuir ao público, e a primeira pessoa a quem ela ofereceu foi uma das funcionárias. Senti que deveria falar com ela e perguntei se poderíamos deixar os livretos no balcão. Para minha surpresa, Janete não só nos permitiu deixar uma grande quantidade de literatura, mas também me implorou para explicar como ela poderia encontrar a salvação. Em cinco minutos, ela estava em lágrimas, e o Espírito Santo trouxe entendimento a ela. Enquanto eu lia as Escrituras explicando o evangelho, ela respondeu ao chamado de Deus com um coração quebrantado e arrependido, implorando para receber Jesus como seu Salvador e Senhor.

Que alegria para todos nós!

Naquele momento, orei por Janete enquanto ela tremia segurando minhas mãos, regozijando-se por ter acabado de encontrar Jesus. Gina conheceu uma senhora do outro lado da rua que frequentava uma igreja cristã na cidade. Ela contou sobre a conversão de Janete e pediu para entrar em contato com ela. Enquanto dirigíamos para reaver nosso pneu, descobrimos que o borracheiro costumava frequentar uma igreja cristã. Ele pegou uma dúzia dos folhetos para distribuir aos seus clientes. Oramos por ele e dirigimos mais 40 quilômetros até Almenara. Ron, que também é mecânico, conduziu-nos até uma pousada na cidade. Na manhã seguinte, ao terminarmos nosso café da manhã, o proprietário do lugar, ao receber o Evangelho de João, abriu seu coração em lágrimas, pedindo oração por sua família e também confessando Jesus como seu Senhor e Salvador.

Ao chegar ao nosso destino final, pela graça de Deus, refleti sobre nossa jornada, traçando paralelos com as provações enfrentadas pelo apóstolo Paulo em sua viagem a Roma. Assim como a tripulação do navio partia rumo aos seus destinos com otimismo, embarcamos em nossa viagem com grandes esperanças e um senso de propósito. No entanto, assim como eles encontraram uma tempestade feroz que desmoronou seus planos, também enfrentamos desafios inesperados ao longo do caminho para Almenara.

Após embarcar no navio, quase toda a tripulação achava que tudo estava bem e que logo chegariam a Fênix, um porto de Creta, para invernar ali. No entanto, foram surpreendidos por uma terrível tempestade que mudou seus planos. Após duas semanas na tormenta, o navio se desfez e eles acabaram na ilha de Malta. No meio de um naufrágio tão terrível e grandes perdas, Deus usou o temporal afim de levar Paulo até a ilha para pregar o evangelho aos seus habitantes. Que tempestade abençoada!  O caminho para Almenara também consumiu muito do nosso tempo, força e planos; no entanto, Deus tinha alguém em Jequitinhonha e Almenara que precisava ouvir o evangelho. Ele nos colocou em um caminho difícil porque sabia que, para interromper nossos planos, precisava de algumas crateras de uma estrada deteriorada e sinuosa. Caso contrário, Janete não teria tido a oportunidade naquele momento de conhecer Jesus, já que não tínhamos planos de pararmos ali. Que estrada abençoada! Que restaurante abençoado! Que refeição abençoada! Que sol abençoado! Que queimadura abençoada! Que Jequitinhonha abençoada! Que almas abençoadas e valiosas!

Dentro do contexto mais amplo de nossa jornada, não poderia deixar de traçar outro paralelo com outra jornada que supera qualquer outra trajetória terrena - a jornada de Cristo. Jesus também percorreu um caminho terrível. Ele escolheu ir pela Via Dolorosa. Ele escolheu parar no Monte Calvário. Ele escolheu ser levantado sobre um madeiro! Ele escolheu morrer para salvar pecadores. No meio de seu sofrimento, João, o discípulo, estava lá com ele, testemunhando sua agonia. O mesmo João, o apóstolo que anos depois escreveria o evangelho que salvaria Janet no caminho para Almenara.

A jornada de Jesus não foi em vão. O Calvário não foi em vão. Os pregos não foram em vão.

Que jornada abençoada! Que tempo abençoado! Que cruz abençoada! Que promessa abençoada!

Que Salvador abençoado! Ele está vivo, aleluia! A cruz não foi em vão. Ele olhou para frente porque sabia que no futuro, ele levaria muitos numa jornada eterna. Não mais no caminho para Almenara, mas em uma estrada celestial:

"Eu vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, da parte de Deus,... A grande rua da cidade era de ouro puro, como vidro transparente." Apocalipse 21:1, 21

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A Jesus toda a glória!

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